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A indústria têxtil e da moda está a enfrentar novos desafios à escala internacional. Automação, digitalização ou sustentabilidade são, ao mesmo tempo, oportunidades, mas igualmente desafios.
A Euratex, a Confederação Europeia da Indústria Têxtil, reconhece que estes são “tempos turbulentos”. A organização liderada à data pelo ex. Presidente Alberto Paccanelli recorda “a agitação geográfica, a crise energética, a queda na confiança do consumidor, criam um clima económico difícil para os empreendedores têxteis prosperarem”. No entanto, importar realçar que “a União Europeia está a avançar com a implementação de sua estratégia têxtil dedicada”. Ao todo, 16 peças de legislação estão em cima da mesa, o que remodelará o contexto regulatório da indústria têxtil e da moda. O futuro da indústria têxtil passará indiscutivelmente pelo Made in Europe.
A indústria têxtil europeia é um ecossistema muito amplo e diversificado. “A maior parte da nossa indústria é pequena, de propriedade familiar, geralmente com décadas de tradição e artesanato”, sustenta a Euratex. Com efeito, 99,7% das empresas (cerca de 200 mil) são PME. O emprego, grosso modo 1,3 milhões de pessoas, é dominado por Itália, que assegura 24% dos postos de trabalho, seguido de Portugal e Polónia, ambos com 10% do total do emprego. Seguem-se Alemanha e Roménia, responsáveis, respetivamente por 9% e 8% dos trabalhadores.
“Cada vez mais, registamos o aparecimento de novas empresas, desenvolvendo produtos inovadores, sustentáveis e introduzindo novas tecnologias. Algumas delas serão o novo rosto da indústria têxtil”, recorda a Euratex. “Garantiremos uma indústria têxtil europeia competitiva”, afiançam.
A defesa de um comércio livre, justo e equilibrado é, desde há muito, uma reivindicação das empresas europeias. A adoção de um passaporte digital de produtos, que garanta ao consumidor toda a informação necessária sobre o bem que pretende adquirir, é uma das medidas que faz parte do novo pacote regulamentar em discussão na União Europeia sobre produção e consumo sustentáveis.
Em causa está o acesso a um conjunto de dados que ajude o consumidor a tomar as suas decisões de uma forma mais transparente e informada, tornando acessíveis informações relevantes sobre as características dos produtos, o seu desempenho e durabilidade, rastreabilidade, impacto ambiental, facilidade de reparação e reciclagem, e que, ainda por cima, favoreça a comparabilidade entre produtos, através de uma plataforma online. “A mudança está a chegar”, considera Alberto Paccanelli, Presidente da Euratex.
O novo quadro regulamentar configura uma aposta clara nos princípios da circularidade e prevê a adoção de regras que desincentivem a curta durabilidade e a limitação precoce do fim de vida dos produtos, passando para o lado dos industriais garantias de fornecimento de soluções de atualização de sistemas, consumíveis, peças de substituição e acessórios, fácil reparação, bem como o fornecimento de manuais de instalação e reparação.
Em cima da mesa está também a proibição da destruição de produtos não vendidos, designadamente têxteis e calçado, com a criação de incentivos a uma produção mais sustentável e amiga do ambiente.
“O passaporte digital do produto é claramente uma oportunidade para a indústria portuguesa”, considera José Alexandre Oliveira. O Presidente da Riopele recorda que “mais de 10 000 empresas, responsáveis por 150 mil postos de trabalho, sedeadas a Norte, num raio de 50 km da cidade do Porto, fazem do cluster da moda em Portugal a grande referência na Europa”.
Todos os anos saem de Portugal para o mundo mais de 7 mil milhões de euros de exportação em têxteis e vestuário, calçado e ourivesaria. “Portugal tem o maior cluster têxtil da Europa”, defende José Alexandre Oliveira, que já assumiu a presidência da ATP (Associação Têxtil e Vestuário de Portugal) e do Euratex. “A indústria têxtil portuguesa tem um conhecimento acumulado ao longo de gerações, investiu em tecnologia de ponta, é uma grade referência no desenvolvimento de produtos sustentáveis”, sublinhou José Alexandre Oliveira. “Com um quadro legislativo mais justo e equilibrado, o futuro da indústria passará indiscutivelmente pela Europa e Portugal será um player de referência”, concluiu.