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Albertina Reis é responsável pelo departamento de I&D da Riopele. Numa altura em que tanto se fala da reindustrialização da Europa, apalpa o pulso ao setor.
Considera que Portugal continuará a desempenhar um papel muito relevante na indústria da moda a nível internacional. Mas, para isso, será necessário “repensar a forma como desenvolvemos tecidos ou como criamos o design”
1. No passado recente, e de forma recorrente, fala-se do regresso da produção à Europa. Na sua opinião, porque é que isso acontece?
A pandemia COVID-19 afetou as cadeias logísticas dos exportadores asiáticos, obrigando a Europa a refletir sobre a sua grande dependência em relação às matérias-primas causada pela sua desindustrialização. Acresce que outras questões como os custos de transportes e lead-time incomportáveis contribuíram, igualmente, para que todo o ciclo produtivo até ao consumidor fosse revisto pelas principais marcas. Não pode também deixar de ser referido que o negócio tradicional começa a focar a sua proposta de valor em produtos e produção sustentáveis, embora não descurando o preço. Acredito que todos estes fatores permitiram uma a reorientação do negócio têxtil para a Europa.
2. No seu entendimento, a indústria têxtil e de vestuário nacional evoluiu suficientemente nos últimos anos ao ponto de ser uma solução de futuro?
A evolução quer em termos tecnológicos quer em termos de conhecimento nesta área de negócio em Portugal tem evoluído e crescido significativamente desde a conceção até à execução. Tivemos a capacidade para nos reinventarmos, pela visão do investimento em soluções inovadoras, procurando diversificar nas linhas de produtos com foco na qualidade enquanto processo e produto com uma valorização em projetos de I&D, bem como com a colaboração entre empresas e centros tecnológicos e Universidades, aumentando assim as competências dos recursos humanos.
3. Lidera uma das áreas de maior responsabilidade da Riopele, a área de I&D. Será a capacidade de desenvolvimento uma das mais valias da oferta portuguesa?
Seguramente será a linha motora para nos mantermos competitivos, diferenciadores e fortes no mercado internacional. Diria mesmo que sem capacidade para desenvolver é impossível sobreviver. Hoje, com a velocidade com que nos movemos em todos os processos, a aceleração do desenvolvimento permanente e com toda a comunicação digital associada é obrigatório mantermos esta dinâmica constante para satisfazer as necessidades da indústria de moda.
4. Do ponto de vista produtivo, de que forma irá evoluir a indústria portuguesa têxtil e de vestuário?
Terá de continuar o seu processo de evolução para a diversificação, sendo a inovação e a qualidade essenciais para assegurar o sempre desejado valor acrescentado. Para isso, importa trabalhar de forma focada para a excelência não só nas linhas de produção, como ainda na eficácia e eficiência dos processos.
5. A inteligência artificial poderá uma solução ou ameaça?
Definitivamente apresenta-se como uma solução de grande apoio para fazermos bem e desenvolvermos com menor custo. Este é um dos pontos que considero fulcral na nossa área e que será uma das mais importantes forças de transformação tecnológica no futuro.
6. As empresas de referência têm vindo a investir de forma expressiva na área da sustentabilidade e mesmo no desenvolvimento de uma nova geração de produtos. Que evolução é expectável que ocorra nos próximos anos?
Além de todo o processo de legislação e padronização obrigatória a nível mundial, a revolução nesta área da sustentabilidade é de tão vasta amplitude que passa em definitivo pela capacidade de converter resíduos ou excedentes têxteis nas suas mais diversas origens em novas matérias-primas. Diria que uma parte deste processo já iniciou com algumas matérias-primas novas ao nível das fibras celulósicas, mas ainda será necessário fazer a revolução neste âmbito.
7. Como assim?
Toda a indústria terá de reduzir o consumo de matérias-primas virgens e utilizar novas fibras a partir dos resíduos, trabalhando o tema por forma a explorar propriedades de biodegradibilidade. Com todo este processo será obrigatório repensar a forma como desenvolvemos tecidos ou como criamos o design. Com estas novas fibras e fibras inteligentes que será possível alcançar um impacto positivo da indústria têxtil no planeta.
8. Que papel está reservado a um país como Portugal no futuro da indústria têxtil e de vestuário?
Estou convicta de que Portugal desempenhará um papel preponderante que começa pelo nosso ADN que nos liga à fileira têxtil. Além disso, somos reconhecidos internacionalmente como capazes, competentes e inovadores. Toda a cadeia de valor foi capaz de inverter o destino que há umas décadas parecia traçado. Portugal precisa da indústria têxtil na sua balança comercial e por isso terá de continuar a impulsionar e apoiar esta área de negócio.